Muitas vezes ouvimos atletas dizerem: “tenho que ser resiliente”. Mas será que eles sabem, de fato, o que é ser resiliente? É fácil afirmar que se é um atleta resiliente ou um profissional resiliente. Contudo, a capacidade de adaptação às situações adversas e a compreensão do enfrentamento vão muito além do discurso.
O que é ser resiliente?
A resiliência é a capacidade que uma pessoa tem de se adaptar a situações adversas, superando dificuldades e, ao mesmo tempo, preservando sua essência (Rutter, 1987; Fletcher & Sarkar, 2012). O termo tornou-se cada vez mais comum no universo esportivo, mas compreendê-lo em profundidade exige mais do que reconhecê-lo como um conceito abstrato.
Ter consciência de que existe um constructo interno — um modo de pensar, organizar ações e comportamentos diante das adversidades — não garante, por si só, que o indivíduo esteja pronto para enfrentá-las. Surge, então, a pergunta fundamental: “Estou realmente preparado para encarar qualquer situação?”
Muitas vezes acreditamos estar prontos, mas, diante do momento decisivo, não conseguimos colocar em prática o que planejamos. Em alguns casos, o atleta se prepara apenas para uma ou duas variáveis, sem considerar a imprevisibilidade do esporte, que exige maleabilidade, flexibilidade e improviso (Neenan, 2009).
Resiliência e o esporte
O esporte é um ambiente dinâmico, em constante transformação. Nas Olimpíadas de Tóquio, por exemplo, observamos situações marcantes: atletas consagrados que não suportaram a pressão, “ruíram” emocionalmente e tiveram quedas significativas de rendimento, mas também outros que superaram expectativas, revelando impressionante estabilidade emocional (Reardon et al., 2019).
Essa diferença de desempenho pode ser explicada justamente pela capacidade de adaptação e pela força mental dos atletas. Enquanto alguns demonstravam tensão e nervosismo, outros mantinham expressões tranquilas e alcançaram grandes resultados. Essa é a resiliência em ação: a habilidade de manter o equilíbrio interno mesmo sob forte estresse (Fletcher & Sarkar, 2016).
Aprendizado com as derrotas
Em minha prática clínica e nos treinamentos, quando um atleta me diz: “Doutor, eu perdi tudo!”, costumo responder: “Ok, mas o que você aprendeu com essa derrota?”.
O desenvolvimento da resiliência exige essa postura de aprendizado contínuo: perder, analisar erros, corrigir falhas e seguir adiante. É um ciclo de evolução.
A resiliência envolve preparo interno para enfrentar qualquer adversidade, seja para lidar com derrotas ou para compreender vitórias, celebrá-las e ainda assim buscar melhorias.
Reflexão necessária
A diferença entre atletas que superam e os que sucumbem em situações críticas está relacionada à resiliência interna, à flexibilidade para lidar com as adversidades (Galli & Vealey, 2008). Essa reflexão, no entanto, não é exclusiva do esporte: técnicos, profissionais da saúde, familiares e qualquer pessoa podem (e devem) se questionar:
“Estou sendo resiliente diante dos problemas da minha vida?”
“Estou encontrando recursos necessários para lidar com essas situações mantendo estabilidade emocional?”
Como identificar e desenvolver resiliência
É possível identificar níveis de resiliência ao observar como o indivíduo lida com as dificuldades do dia a dia. Se, diante das barreiras, consegue se adaptar e seguir em frente, há sinais de resiliência. Porém, se surgem sintomas como ansiedade intensa, irritabilidade, insônia ou somatizações, pode ser um indício de que a resiliência não está suficientemente desenvolvida (Bonanno, 2004).
A autoavaliação e a autocrítica são fundamentais, embora difíceis de praticar. Por isso, buscar apoio profissional pode ser essencial. Um Psicólogo do Esporte auxilia no desenvolvimento de ferramentas cognitivas e comportamentais que fortalecem a resiliência, favorecendo tanto a vida esportiva quanto pessoal.
Conclusão
Ser resiliente não é apenas declarar “eu sou resiliente”. Trata-se de construir, de forma sólida, estratégias comportamentais e cognitivas específicas que permitem atingir um elevado nível de performance mental e manter-se equilibrado diante dos desafios.
Referências Bibliográficas
Bonanno, G. A. (2004). Loss, trauma, and human resilience: Have we underestimated the human capacity to thrive after extremely aversive events? American Psychologist, 59(1), 20–28.
Fletcher, D., & Sarkar, M. (2012). A grounded theory of psychological resilience in Olympic champions. Psychology of Sport and Exercise, 13(5), 669–678.
Fletcher, D., & Sarkar, M. (2016). Mental fortitude training: An evidence-based approach to developing psychological resilience for sustained success. Journal of Sport Psychology in Action, 7(3), 135–157.
Galli, N., & Vealey, R. S. (2008). “Bouncing back” from adversity: Athletes’ experiences of resilience. The Sport Psychologist, 22(3), 316–335.
Neenan, M. (2009). Developing resilience: A cognitive-behavioural approach. Routledge.
Reardon, C. L., et al. (2019). Mental health in elite athletes: International Olympic Committee consensus statement. British Journal of Sports Medicine, 53(11), 667–699.
Rutter, M. (1987). Psychosocial resilience and protective mechanisms. American Journal of Orthopsychiatry, 57(3), 316–331.
Profº MSc. Psicólogo Paulo Penha de Souza Filho
Paulo Penha de Souza Filho é formado como Psicólogo, Mestre em Distúrbios da Comunicação, Especialista em Fisiologia do Exercício, Especialista em Psicologia do Esporte e Especialista em Psicopedagogia.
Gerente de Saúde Esportiva na Psiccom Saúde Integral (PSICCOM), onde também atende clinicamente. Professor em cursos de pós-graduação e Palestrante. Coordenador do Grupo de Estudos em Ciências do Esporte (GECE). Membro Diretor da Associação de Psicologia do Esporte do Paraná (APEP).
Trabalha em clubes, academias, e no consultório com atletas amadores, profissionais e olímpicos.
Instagram: @psicologodoesporte.paulopenha
Fone: 41- 991084243
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Currículo Lattes: Link Lattes: http://lattes.cnpq.br/6354183003893876